fevereiro 26, 2008

Sophia em: Homens Hipocondríacos...


Você já conheceu alguém hipocondríaco? Aquela pessoa que sabe absolutamente tudo sobre sintomas, doenças e remédios?
Ah, eu Sophia tenho uma experiência com relação a este assunto e vou contar agora! por uma questão de ética e elegância não poderei falar o nome real do protagonista da minha crônica, pois hoje em dia com essa moda de processar alguém por danos morais, qualquer escorregão me remeteria a uma cela numa penitenciária feminina e dificilmente encontraria inspiração para escrever minhas crônicas!
Vamos chamá-lo carinhosamente de “bonitão”. Um sujeito bom papo, bonito, bacana, e acima de qualquer suspeita...Quando o conheci não imaginava que estava em companhia de um hipocondríaco. Se sua intenção era omitir, ele conseguiu, mas como sabemos, não se consegue omitir um fato por muito tempo! Mais cedo ou mais tarde a verdade aparece, e isso vale pra tudo, ou pelo menos para quase tudo! Há segredos tão bem guardados que resistem a séculos ou até mesmo uma vida inteira sem nunca serem revelados!
Conversa vai, conversa vem, o “bonitão” a cada encontro ia revelando seus “probleminhas”, que eu embora com certa experiência, fui acatando inocentemente, e imaginei serem problemas contornáveis ou pouco relevantes. Então comecei a descobrir aquela parte chata...ele tomava um remédio porque ficou deprimido, ficou deprimido porque se separou, e tomava calmantes devido a tanto nervoso. Tinha insônia, também tomava remédios para poder dormir. Novamente fui tomada por um sentimento quase que “maternal” e pensei positivamente: “ora, isso é uma fase, com certeza logo ele há de se livrar desses medicamentos.” O que eu realmente não sabia que os tais medicamentos eram armazenados numa super sacola! Sabe quando você vai a uma loja bacana, compra uma sandália linda e ela vem naquela sacola charmosa que você não consegue se desfazer pensando que haverá de encontrar uma utilidade pra ela? Pois é! A sacola era desse tipo. Fácil de abrir, bastava afastar as alças e pronto: aquela farmácia ambulante já estava à disposição, não só de uma pessoa, mas de toda uma comunidade se fosse o caso!
No primeiro instante é claro que fiquei chocada, pois aquilo parecia um depósito da cruz vermelha. Quando tive a liberdade de “explorar” tal sacola, pude encontrar de tudo um pouco: Os que já citei antes como antidepressivos, calmantes, remédios para dormir e veja só o que mais encontrei... Pastilhas para a garganta, comprimidos para dores de cabeça, pomadas para várias enfermidades, desde uma pomada destinada a secar verrugas, até pomadas para os mais inusitados fins! Sal de fruta para uma possível indigestão, colírio que provavelmente era usado em caso de não conseguir enxergar o remédio necessário, anti gripal, remédios para cólica renal (embora a última que ele tenha tido havia sido há 15 anos atrás) e quando os tarja preta e vermelha não pareciam suficiente, entrava o grupo dos fitoterápicos que eram usados em grandes quantidades como se fossem balas de coco em aniversário infantil! Tinham a função de “complementar” o efeito desejado! Também não posso esquecer os esparadrapos, gazes e toda gama de utensílios usados em primeiros socorros que atenderiam muito bem pelo menos um andar inteiro de uma enfermaria hospitalar após um terremoto por exemplo!
Remédios à parte, agora vamos é falar de hipocondria! Ah, bastava o telefone tocar e a mente do “bonitão” completamente melancólica e mórbida aguardava uma má notícia e imediatamente sofria um “baque”.
Aliás, baque que de fato nunca existiu, ou melhor existia sim, mas só na cabeça dele que tinha uma personalidade um tanto quanto piegas, nostálgica, melancólico e deprimida, mas é claro que isso eu só fui descobrindo tudo isso com muita observação e convivência.
Houve um dia que ele me ligou e disse estar com uma dor forte no braço, e descreveu todos os sintomas de um ataque cardíaco, é claro que a essas alturas do campeonato seu coração foi a mil por hora! Qualquer situação um pouco mais delicada o remetia direto a uma UTI imaginativa! E da UTI direto pro IML, depois para um velório e finalmente para sete palmos abaixo da terra, isso quando ele não pensava sofrer de catalepsia aquela doença que a pessoa parece morta mas está vivinha da silva!!!!
Estar com o “bonitão” remetia-me in loco ao “Muro das Lamentações” em Israel, havia dias que era praticamente impossível um diálogo, bastava esbarrar nele e as lamúrias seguiam uma após as outras. E pra quê eu visitaria um médico se tinha ao meu lado o “senhor bula”, que de tanto ler as bulas dos remédios podia perfeitamente ocupar o lugar de um médico numa clínica geral. Sabia remédios pra absolutamente tudo! Desde unha encravada, até os mais novos medicamentos para a depressão, aliás essa era sua especialidade! Não havia antidepressivos no mercado que ele não tenha feito uma “degustação”. E todos eles tinham uma série de defeitos: um causava muito sono, outro agitação, calafrios, tremor, sudorese, náuseas, coceira pelo corpo e por aí afora...
O “bonitão” tinha uma mente tão assustadiça que se separar de sua sacola o remetia a um surto psicótico daqueles! Houve uma ocasião que ele esteve em minha casa e foi deixado por um motorista que levou o carro para a casa dos pais deles, quando deu por falta da sacola estilo “cruz vermelha” entrou em pânico. Ligou para vários parentes, e depois para o pai que era um velhinho com problemas de catarata e não conseguia encontrar a chave do carro e tão pouco enxergar através dos vidros e ver se a tal sacola havia sido realmente esquecida. O estresse foi tão grande que eu já o imaginei mandando pintar faixas e fixá-las nos postes da redondeza oferecendo uma recompensa para quem encontrasse e devolvesse tal preciosidade! E tenho a mais absoluta certeza que todos os remédios seriam contados e recontados isso se ele realmente não enfartasse devido ao choque dessa perda irreparável da sacola... E fora tudo isso havia um ritual quase que sagrado com horários, medidas e procedimentos ao longo do dia para enfrentar desde uma simples coceira na sola do pé, até problemas gravíssimos como uma embolia pulmonar por exemplo! E não era só isso não! O bonitão ouvia atentamente quando velhinhos aposentados conversam sobre suas “experiências médicas” e medicamentos “milagrosos” como cartilagem de tubarão, cogumelos do sol e mais uma série de coisas que tem a venda por aí! Além de toda essa medicação ele também gostava de tomar umas “biritas” aí minhas amigas... o efeito dessas drogas era potencializado pelo fígado, e a personalidade do “bonitão” ficava completamente alterada! E os sintomas eram: de lapsos de memória, confusão mental, euforia e muita inconveniência! Por isso minhas caras, depois dessa experiência que passei o único conselho que atrevo a dar é o seguinte:“quando conhecer um “bonitão” aparentemente normal, puxe um assunto sobre doenças familiares e espere a reação....se ele começar a descrever o causa da hereditariedade das doenças e se empolgar com o assunto.... peça licença, vá ao toalete, ponha uma bola de algodão em cada ouvido e volte para tentar encerrar o assunto antes que ele se entusiasme tanto que vocês dois acabem indo parar não numa cama de um motel mas sim numa de hospital!

Nenhum comentário: